lundi, août 16, 2010

O teatro de sombras de Michel Ocelot

O teatro de sombras é uma forma muito antiga de teatro surgida na China durante a Dinastia Han (206 a.C.-220 d.C). Reza a lenda que o imperador Wu (156 a.C. - 87 a.C.) perdera sua concubina favorita: a jovem morrera depois de uma longa doença. O imperador estava arrasado, e pediu aos seus ministros que encontrassem uma maneira de trazer sua amada de volta à vida (imperadores geralmente tem esses delírios de grandeza...especialmente na China, hehehe). Os ministros então mandaram fazer uma silhueta da concubina morta. A boneca tinha juntas móveis e era controlada com o auxílio de varetinhas. Usando uma lanterna a óleo, eles fizeram a sombra da boneca se mover: nascia o teatro de sombras chinês (pí yĭng xì)



O teatro de sombras chinês foi levado para a França no século XVIII, quando missionários que estiveram na China retornaram para a Europa e fizeram pequenas apresentações em Paris e Marselha. Foi então chamado de "Ombres Chinoises" (Sombras chinesas). O marionetista Dominique Seraphin fez as primeiras apresentações profissionais em 1776 (Paris) e 1781(Versailles). As técnicas foram adaptadas ao gosto francês e o novo estilo ganhou o nome de  "Ombres Françaises" (Sombras francesas). O teatro de sombras foi extremamente popular no século XIX, em especial nos cabarés de Montmartre. As apresentações cresceram tanto em popularidade como em tamanho e complexidade. No cabaré "Le Chat Noir" (O gato negro) apresentações de teatro de sombra organizadas por Henri Rivière utilizavam até 20 marionetistas.

Essa forma de entretenimento ainda pode ser encontrada hoje em dia nas ruas da China e em outros países asiáticos , como a Índia, Indonésia, Malásia e Tailandia. Infelizmente com a quantidade de filmes e desenhos animados utilizando recursos gráficos cada vez mais sofisticados, o teatro de sombras não é tão comum fora da Ásia como foi no passado. O francês Michel Ocelot vem recuperando pouco dessa tradição em alguns de seus filmes. Ocelot é um animador e diretor, responsável por alguns dos melhores filmes de animação dos últimos anos, e quando eu digo melhores (e antes que alguém saia berrando "E a Disney?!!!") não me refiro só à técnica de animação, mas à direção de arte, roteiro, referências artísticas. Em três filmes Ocelot utiliza a técnica do teatro de sombras: "Princes et Princesses"(Principes e Princesas), "Les contes de la nuit"(Os contos da noite) e "Dragons et Princesses" (Dragões e Princesas)

Mas Ocelot é apenas um expoente mais recente dessa forma de arte aplicada ao cinema: sua inspiração vem da alemã Charlotte "Lotte" Reiniger (1899 –1981). Lotte produziu diversos filmes usando recortes de cartolina negra e gravando frame por frame. Lotte fazia teatro de sombras desde a infância (se apresentando para a família e amigos), mas começou sua carreira como animadora e diretora profissional nos em 1918, aos 19 anos, e produziu até quase o fim da vida nos anos 80. Seus filmes são verdadeiras obras de arte(especialmente se considerarmos que tudo era feito à mão e gravado pela própria Lotte, com os recursos de fotografia e gravação existentes na época):



Michel Ocelot, fã de Lotte Reiniger atualizou as técnicas da mestra, porém mantendo a essência: recortes em papel fotografados frame por frame. O resultado é, como quase todos os seus filmes, fenomenal:




Ps:Para assistir "Princes et princesses" completo on-line (com legendas em inglês) vá ao canal subbedfilms

mardi, août 03, 2010

Eclipse de uma paixão (Total Eclipse)

Geralmente as sugestões de filmes que eu post aqui no blog são de filmes franceses, por motivos óbvios ;P  Mas "Eclipse de uma paixão" merece que eu abra uma exceção.

Baseado em cartas e poemas, "Eclipse de uma paixão" (Total Eclipse) reconta o turbulento caso de amor entre os poetas franceses Paul Verlaine (David Thewlis) e Arthur Rimbaud (Leonardo diCaprio).  Tanto Rimbauld como Verlaine eram (como tantos outros) "poetas malditos". A alcunha vinha do próprio estilo de vida dos artistas franceses do período. A Europa (e a França em particular),  vivia no fim do século XIX e início do século XX um período muito particular de sua história artística e cultural. Era o fin de siècle, expressão que se relaciona com o mundo cultural e boêmio fracês, particularmente parisiense, da época. Esse período é típicamente visto como uma época de opulência (graças à crescente industrialização) e de "decadência moral", que precedeu o colapso político, economico e humano que viria com a Primeira Guerra Mundial. Foi um período de experimentação e efervecência: a arte explorava temas  e técnicas mais audaciosos e polêmicos, a poesia se afastava da métrica e temas tradicionais, os costumes burgueses se tornavam cada vez mais luxuosos (e caros), e a cresente marginalização de uma significativa camada da população (onde os artistas estavam incluídos) levou não apenas à pobreza, mas à prostituição, abuso de drogas, alcoolismo e ao crime. Surge toda uma subcultura de artistas, prostitutas e boêmios vivendo à margem da sociedade "oficial": era o "demi-monde", um mundo a parte da moralidade burguesa. A figura tradicional (que hoje já é um cliché) do poeta genial, porém deprimido, viciado e pobre, cuja vida fatalmente termina em tragédia era uma realidade na Paris fin de siècle.