Como eu disse, "Simon Werner..." me decepcionou um pouco...Não cheguei a odiar, mas... Digamos que talvez minhas expectativas fossem muito altas para um filme que, se não é exatamente ruim, também não chega a empolgar. Quando vi o trailer e li as críticas estava esperando um filme muito mais denso e impactante do que aquele que assisti. "Simon Werner..." é um filme de estréia, escrito e dirigido por Fabrice Gobert. Gobert já tinha dirigido trabalhos para a televisão, mas esse foi seu primeiro longa para o cinema o que, provavelmente desculpa muitas das falhas do filme. Mas se levamos em consideração a pouca experiência do cineasta, "Simon Werner..." abre muitas possibilidades interessantes para seus próximos trabalhos.
"Simon Werner..." é um filme de suspense adolescente. O Simon Werner do título é um jovem estudante de um escola secundária normal que, conforme o título entrega, desaparece. Após o sumiço de Simon, outros alunos da mesma sala começam a desaparecer, e ninguém consegue chegar à uma conclusão sobre o que estaria acontecendo já que, além de estudarem na mesma turma, os jovens não têm quase nada em comum. Enquanto a polícia investiga (fora de cena, os poiliciais, pais, professores e outros adultos praticamente não aparecem no filme, que foca toda a sua atenção nos adolescentes), os demais alunos começam a levantar hipóteses sobre os desaparecimentos, e seus segredos, problemas pessoais e preconceitos podem levá-los a pensar em possibilidades que nunca imaginaram antes.
"Simon Werner..." cai na categoria dos chamados "coming-of-age movies", isto é filmes sobre jovens que começam a amadurecer e descobrir o mundo. E como tal faz um excelente trabalho: a narrativa é completamente sustentada pela visão de mundo dos alunos, e o diretor evita aquele clima que alguns filmes sobre adolescentes tendem a ter que nos faz perceber logo de cara que o filme foi produzido por adultos que não sabem nada sobre o universo que estão retratando. Também tem o plus de não tratar seus personagens como lesados à la "Malhação". Mas ao mesmo tempo, por comprar completamente a visão de mundo dos personagens, o filme corre o risco de alienar um pouco a platéia.
Mas o grande trunfo do filme acaba sendo também sua maior falha. A narração é feita a partir do ponto de vista dos personagens. São vários segmentos, cada um com um protagonista diferente e cada um recontando os acontecimentos da maneira que foi vivida por cada um deles. O formato tem de tudo para tornar o filme interessante, mas acabou trabalhando contra. Se por um lado é uma excelente idéia fazer o público ir descobrindo cada um dos segredos e reviravoltas da história junto com os personagens e a idéia de "narrador não-confiável" aumenta ainda mais o mistério (perfeito para um suspense), por outro lado é uma idéia que precisa de uma ótima edição para funcionar. E a edição de "Simon Werner..." está longe de ser ótima. O resultado são cenas longas, monótonas e repetitivas, com elementos confusos e, de vez em quando, mal resolvidos. Em vez de fazer a tensão e a curiosidade do espectador crescer, o vai-e-vem de pontos de vista e as cenas arrastadas só fazem com que o público não veja a hora de a coisa toda desenrolar, ou acabar de uma vez.
A cena da festa de aniversário de Jérémie é um bom exemplo desse problema. Na primeira sequência tudo bem ver os personagens dançando, festa com música alta e muita bebida e uma surpresa desagradável no bosque perto da casa. Na segunda sequência ficou chato ver exatamente a mesma coisa com ângulos de câmera diferentes...na terceira eu já estava mentalmente xingando a mãe do diretor (sério). Completamente desnecessário mostrar cada detalhe mil vezes do ponto de vista de cada um dos protagonistas, o que as vezes não acrescentava nada de novo. O fato do filme ser narrado por várias vozes também faz com que certos elementos, que parecem importantes do ponto de vista de um determinado personagem, acabem sumindo das outras sequencias ou se mostrando completamente irrelevantes, o que é meio enervante. No fim o resultado é uma colcha de retalhos meio confusa com um desenlace anti-climático(mas que faz completo sentido).
Apesar de tudo, dá para entender o que o diretor tinha em mente ao escolher esse formato: ele tenta refletir na história a típica confusão adolescente, com os medos e incertezas normais da idade. As personagens por vezes exageram sobre besteiras, ignoram coisas importantes, imaginam o que não existe ou ignoram o óbvio...assim como todo mundo faz quando tem quinze, dezesseis anos...E assim como na vida real, isso faz com que eles não vejam algumas coisas fundamentais da vida (importante se lembrar disso, caso o final não faça sentido para você). Se não fosse pelos equívocos de edição e escolhas narrativas, a idéia teria sido genial. E foi isso que me decepcionou um pouco...é um filme com potencial que nunca consegue dizer a que veio.
Mas "Simon Werner..." tem seus pontos positivos. Os atores para começo de conversa. Ok, o filme sofre um pouco daquela síndrome típica de todo filme/série "teen": adolescentes interpretados por jovens atores adultos...mas é compreensível já que não tem muitos atores jovenzinhos com talento pipocando por aí. E o elenco de "Simon Werner..." sem dúvida tem talento.Não espere nada de extraordinário (até porque o tom monocórdio o filme não permite), mas atuações sólidas, que captam bem o espírito inquieto, desconfortável e meio bobinho do adolescente médio.
Outra coisa legal é a música: toda a trilha foi composta pelo Sonic Youth, uma banda americana de rock alternativo. Quando fui pesquisar o filme achei mais hits no google sobre a trilha sonora que sobre o filme em si, e por boas razões: é uma boa banda(que eu não conhecia antes de assistir "Simon Werner..."). A trilha do Sonic Youth, feita especialmente para o filme, é muito eficiente, um rock-and-roll correto (ainda que meio repetitivo) que dá clima e emoção às cenas e imprime mais dinâmica àquilo que tem pouca. A trilha também contribui para dar um ar vintage a "Simon Werner..."...Isso porque a história se passa nos anos 90, e o feeling meio grunge da trilha contribui para criar o clima. A fotografia muito outonal, cheia de laranjas e cinzas com uma qualidade de video não muito limpa também ajuda na ambientação "de época" (se é que dá para usar o termo "de época" para um filme que se passa nos anos 90) e torna a experiência de assistir "Simon Werner..." visualmente bem agradável.
Enfim, um filme razoável...mas que não valeu os 20$ que paguei para assistir no Artplex Botafogo (aliás a entrada já seria um roubo mesmo se o filme fosse excelente...) Meu conselho? Espere chegar nas locadoras.
incrível como a sinopse é tão mais interessante que o filme em si...e a música é um saco (não sei juro que não entendi porque os franceses curtiram tanto a música ..achei tão..barulhenta e erg).
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